Faltou cafeína na veia do Bourdain?

Papa-léguas, em português ou Roadrunner, em inglês.  Nome de pássaro típico do deserto americano e da música* que aparece no  filme de mesmo nome sobre Anthony Bourdain.

Papa-léguas, em português ou Roadrunner, em inglês.
Nome de pássaro típico do deserto americano e da música* que aparece no filme de mesmo nome sobre Anthony Bourdain.

Um filme sobre a vida de Anthony Bourdain.

Ao ler na mídia gringa sobre a estreia do documentário chamado Roadrunner, marcada para o dia 16 de julho de 2021 nos cinemas dos Estados Unidos, imediatamente pensei o quão gostoso e divertido era assistir essa cara na TV!

Sua voz, outra grande marca dele, tornava os programas ainda mais prazerosos - pelo menos para mim!

O trailer oficial do filme está no YouTube, neste link. O canal é da distribuidora, uma informação útil para quem tem medo de clicar no escuro. Eu tentei colocar a legenda automática no vídeo, aquela gerada pela própria plataforma, porém o recurso parece não estar habilitado para nenhum idioma.

Do trailer, eu acabei me perdendo na internet. Por dias e dias, li um monte sobre o Anthony Bourdain.

Tenho me perguntado onde eu estava antes ou o que fazia porque nada sabia sobre ele. Absolutamente nada!

Talvez eu o tenha descoberto na tv em uma noite qualquer. Acabava parando nos seus programas de viagens e comida quando procurava por algo mais interessante (ou só relaxante) na grade de programação do cabo.

Com tanta informação adicional na minha cabeça sobre tudo o que o Anthony Bourdain fez em sua vida, foi quase natural me perguntar e xeretar ainda mais como era a sua relação com o café.

Será que em suas viagens pelo mundo, ele visitou alguma cafeteria local ou plantação?

Eu me lembro de assistir alguns episódios do Bourdain no Brasil. Será que ele foi em cafezais? Afinal, segundo fontes oficiais, o Brasil é o maior exportador do grão.

Ensaiei as primeiras linhas deste texto, mas logo abandonei tudo. Achei que não teria nada a ver misturar esses dois temas bourdain + café no Barista Junior, um blog para quem quer aprender a fazer um cafezinho mais gostoso em casa. Larguei no rascunho até a semana passada…

Na web, fiquei mais dias para apenas saciar minha curiosidade. Até a semana passada…quando assisti ao tão falado filme sobre Anthony Bourdain.

O cara é pura inspiração e, certamente, ensinou e ainda ensina para muita gente.

Se você, assim como eu, curtia seus programas, vai lá e assista assim que possível. Não sei qual nome tem ou ganhará em português, mas com certeza esse documentário tem espaço entre o público brasileiro.

Da cozinha para o livros

O astro dos shows de comida e cultura popular começou pelos livros a sua fama. Isso chamou muito a minha atenção.

Numa rápida olhada na loja da Amazon e na Wikipedia, é fácil descobrir a relação dos livros publicados pelo chef-autor-celebridade-jornalista-lavadordepratos (quantos títulos podem ser dados para uma só pessoa?). Tem ficção e não-ficção entre os 13 livros publicados.

Escrever foi um meio pelo qual ele tentou tirar o pé da cozinha, algumas reportagens com ele ou sobre ele afirmam. De qualquer maneira, a cozinha e a comida sempre permearam seus textos.

'Kitchen Confidential: Adventures in the Culinary Underbelly' é o livro que em 2000 o catapultou para fama, antes mesmo da tevê.


A versão em português ganhou o título
Cozinha confidencial: Uma aventura nas entranhas da culinária

Navegando mais a fundo na loja da Amazon, é possível encontrar o livro com uma capa diferente! Parece ser a publicação original de 2001. Preços diferem de vendedor para vendedor.

No Brasil, a obra foi lançada em outubro de 2016 pela Companhia de Mesa - o selo gastronômico do grupo editorial Companhia das Letras.

Eu não tenho dotes culinários, mas como boa taurina adoro comer muito bem. O site da Companhia de Mesa é de dar água na boca! Vale a pena a visita :)


Posso estar errada, mas não me parece que seus livros foram todos traduzidos para o português. O que é uma pena!

Além de revelar para nós, simples comensais, o lado B do mundo gastronômico com “lembranças e comentários, com direito a mafiosos e Frank Sinatra, muito derramamento de sangue, bebedeiras gigantescas, pitadas de suspense e uma alegria atordoante no ar” - trecho da orelha escrito por Nina Horta para o livro que lançou o nome de Bourdain no mundo.

Anthony Bourdain mostrou ser um grande contador de histórias, não só por meio da televisão. Mas, principalmente por meio da sua escrita, ensinou e influenciou muita gente (gente comum, gente como a gente - diria a minha mãe).


Um cara intenso, alto e de forte presença. Quem duvida?

Tão intenso que muitas das críticas sobre o filme Roadrunner citam o entusiasmo usado pelo chef quando ele descobria uma paixão. A obsessão pelo novo fez Bourdain se atirar de cabeça de drogas a mulheres, passando por aulas de redação criativa e jiu jitsu brasileiro.

Dos livros para a televisão

O próprio Anthony Bourdain revela no seu Tumblr que usou a fama instantânea do livro de memórias para explorar e lançar mais títulos.

Sua experiência como lavador de pratos , escritor e chef em lugares bons, ruins e horríveis da cidade de Nova York (hahahah, ele mesmo diz assim no seu blog) e seu gosto pelas viagens ao redor do mundo criaram as bases e solidificaram sua carreira de criador e produtor de conteúdo para a televisão.

Seus últimos tuítes deixam claro seu perfeccionismo, outro traço de seu perfil obsessivo - segundo a imprensa, e satisfação com a trilha sonora dos episódios de Parts Unknown em Hong Kong.

Até na música dos episódios tinha um dedo dele.

Da televisão para as revistas

Inúmeras são as reportagens sobre e com o Anthony Bourdain.

De revistas semanais sobre entretenimento, política e cultura a websites e publicações sobre restaurantes e gastronomia em geral.

Sua vida foi escrutinada por diversos ângulos e pontos de vista. Basta dar um google para encontrar textos sobre ele, principalmente em inglês.

(Vale linkar no fim do post tudo o que li por aí?)

Numa dessas entrevistas em 2016, Anthony Bourdain revelou sua relação com a bebida café.

Ao jogar várias perguntas como “come comida de avião?”, “sente saudades da comida de casa?”, “o que você nunca experimentaria?”, o reporter mandou a seguinte ao chef aventureiro.

“Como toma seu café quando está viajando?”

Sua resposta causou furor na comunidade internacional de baristas!

What’s your coffee strategy on the road? There are few things I care about less than coffee. I have two big cups every morning: light and sweet, preferably in cardboard cup. Any bodega will do. I don’t want to wait for my coffee. I don’t want some man-bun, Mumford and Son motherf*cker to get it for me. I like good coffee but I don’t want to wait for it, and I don’t want it with the cast of Friends. It’s a beverage; it’s not a lifestyle.

Tradução do Google, eu só dei uma ajeitada…no palavrão, principalmente (rs):

Existem poucas coisas que me importam menos do que café. Eu tomo duas xícaras grandes todas as manhãs: fraco e adoçado, de preferência em xícara de papelão. Qualquer bodega serve. Eu não quero esperar meu café. Eu não quero que um homem de coque, um tipo Mumford & Sons** pegue para mim. Gosto de um bom café, mas não quero esperar e não quero com o elenco do seriado de Friends. É uma bebida; não é um estilo de vida. - entrevista original em inglês aqui.

O chef, conhecido por comer qualquer coisa, não mostrou entusiasmo pelo café ou pela cultura do café especial.

Talvez porque não tivesse tempo ou paciência para esperar um café fresco sair.

Talvez porque não via atrativo em ver seu café sendo feito por uma pessoa com aquela aparência descolada (o cara usando um coque samurai), estereotipada das cafeterias moderninhas.

unsplash-image-Mz5WrT0Hg8Q.jpg

Um homem de barba, coque samurai e vestindo camisa xadrez segura uma xícara de café com o dizeres “Respeito ao homem de coque” em inglês.

Imagem meramente ilustrativa. Nem sei como esse tal movimento “respect the man bun” surgiu.

Caso você aí esteja pensando que foi a partir da resposta inflamada do Anthony Bourdain sobre como prefere beber seu café.

Talvez Anthony Bourdain fosse o tipo que nunca seria mordido pela onda da cerveja artesanal, das confrarias de vinho ou do vegetarianismo.

“Puxa vida, não aos coffee snobs. Gosto é gosto!” - frase extraída do livro Barista Junior, o livro que deu origem a este humilde blog.

Talvez tenha faltado mais cafeína na veia do Bourdain, além das duas xícaras grandes pela manhã?

Nunca saberemos.

Eu só sei que estou doida para comprar o meu exemplar do Cozinha Confidencial e aprender com o Anthony Bourdain a escrever um texto de muito mais respeito.

 

* Banda Modern Love da cidade de Boston. Eu criei uma rádio no Spotify a partir da música de nome Roadrunner e veio tudo dos anos 80, de Devo a Joy Division. É da sua época?

** Mumford & Sons, banda inglesa de folk rock. Você já deve ter escutado!

Ahhh…e eu percebi que falava “Bourdain” errado. Os americanos falam algo como ‘Bordein’. Eu, querendo fazer um sotaque francês, falava ‘Bordãn’ :)

Pra não dizer que não falei das flores: “Como participante do Programa de Associados da Amazon, o Barista Junior é remunerado pelas compras qualificadas efetuadas.”

Andrea Prandini

Coffee Shop Explorer @baristajuniorbr

Previous
Previous

Cafeína Trip: de pires a elixires no Sul dos EUA

Next
Next

Café congelado: precisamos falar sobre isso?